segunda-feira, 19 de julho de 2010

O QUE VOCÊ SABE?

Às vezes me pergunto o que realmente sei sobre a vida. Tenho 45 anos e já vivi mais de 50% do que tenho a viver, levando-se em conta a expectativa de vida de um brasileiro de classe média alta. Estudei muito, e ainda estudo, li muito e ainda leio, mas menos do que deveria, tento me informar o máximo possível sobre tudo o que acontece ao meu redor, em Salvador, na Bahia, no Brasil e no mundo; e ainda assim, a velocidade em que novas informações surgem me deixa inseguro sobre o que realmente sei.

Mas se eu estou inseguro sobre o que sei imagina sobre o que não sei. Eu sei que não sei de tantas outras coisas que eu gostaria de saber. Muito mais até, do que sei. Queria saber de tanta coisa mais que não sei, e sei que não sei. E isso me frustra. Querer saber o que não se sabe. Aprender o que ainda não aprendi! Queria saber sobre buracos negros, quasares e pulsares (acho que escrevem assim), antropologia, cultura egípcia e maia e inca e asteca, queria saber como se faz um molho de mostarda, e por aí vai.

Mas isso não é o mais frustrante. Ainda temos um dilema pior.
E aquilo que não sabemos que não sabemos? Imaginem a quantidade de informações, coisas, fatos, ciências, histórias, fenômenos, etc. que não temos idéia que existem, ou se mesmo existem. Por exemplo: será que existe um elemento químico que seja ao mesmo tempo sólido e gasoso?

Não saber que não sabe é o cúmulo da ignorância. E eu não quero ser ignorante! Eu quero saber, conhecer. Eu preciso disso. O homem precisa disso. Mas é impossível. Pelo menos hoje ainda é. Será que um dia saberemos de tudo, ou no mínimo, saberemos de tudo inclusive daquilo que não sabemos?

sexta-feira, 9 de julho de 2010

BLITZKRIEG DAS RUAS

Olha, esse assunto é um dos poucos que me tiram do sério. Por isso essa será a única vez que falarei dele. O trânsito de Salvador. Terra sem lei, habitada por facínoras sem alma onde cada metro de asfalto, ou terra, ou paralelepípedo, ou buraco é disputada como se fosse a última barata comestível após uma guerra nuclear.

Educação? Como pedir educação em uma terra onde a escola é vista como uma obrigação (des)necessária cujo objetivo é apenas de permitir aos pais um local onde deixar os seus filhos para que os mesmos possam trabalhar, divertirem-se ou fazer sei lá o quê eles fazem. Educar seus filhos que não é.

Cada motorista ou pedestre dessa cidade concebe a idéia de que o chão à sua frente pertence a ele, e apenas a ele. Ninguém pode ter a audácia de pretender adentrar em seu território, sob o risco de retaliação. Em função dessa crença de posse de território, cada um acredita que nesse espaço “seu” ele pode fazer qualquer coisa. Ele é o REI de “sua” terra.

Sendo Rei desse pedaço de chão à sua frente ele pode parar em fila dupla, fila tripla, fechar cruzamento, não utilizar o pisca alerta, andar com os faróis apagados, não ter as luzes de freio operacionais, descarregar a qualquer hora do dia ou em qualquer lugar e por aí vai.

Cada centímetro de chão desabitado, ou seja, ainda não ocupado por outro facínora, é visto como a Rússia foi vista por Adolf Hitler. Blitzkrieg(1) neles. Ocuparei esse pedaço de chão o mais rápido possível com a maior violência possível antes que outro faça o mesmo. Aí vemos as ultrapassagens pela direita ou pelo acostamento ou ainda entre as faixas de rolamento, as roubadinhas ou, como gosto de dizer, assaltos à mão armada, etc.

Onde vamos parar. Acho que na mesma terra de Mad Max(2). E aí, a civilização, ou o que restou dela será para os mais fortes, ou os mais loucos. Dessa civilização, desculpem-me, mas eu não quero viver pra ver.

1 Foi uma doutrina militar a nível operacional que consistia em utilizar forças móveis em ataques rápidos e de surpresa, com o intuito de evitar que as forças inimigas tivessem tempo de organizar a defesa
2 Filme estrelado por mel Gibson sobre um mundo pós apocalipse

sexta-feira, 2 de julho de 2010

PATRIOTA DA PÁTRIA DE CHUTEIRAS

Ser patriota. O quê faz de alguém um patriota? O que significa ser patriota? De acordo com os dicionários, patriota é a pessoa que ama a pátria. Ainda de acordo com os dicionários, pátria é a terra de nascimento ou adotiva de uma pessoa. Onde quero chegar com esses questionamentos? Quero discutir nesse dia, 02.07.2010, a visão, errônea na minha modesta opinião, de Dunga do que é ser patriota.

Para o nosso controverso ex-técnico da seleção brasileira temos que torcer pela seleção brasileira, pois quem não torce para ela não é patriota. Ou seja, não ama a sua pátria. Quero logo deixar claro que eu não torci pela seleção brasileira nessa Copa, como não torci por essa mesma seleção nas Copas de 2006, 2002, 1998, 1994 e 1990. Isso então significa que eu não amo o país onde nasci? Pelo contrário, justamente por não ter torcido é que eu me considero mais amante de meu país que o Dunga ou qualquer outro que vista a “amarelinha”(1) jamais o será.

Amar o país onde se nasce, ou o que se adota, vai muito mais além do que torcer por sua seleção de futebol. Como dizem os outros, “o buraco é muito mais embaixo”. Cada país, ou região, ou cidade, ou vila, ou ilha, ou qualquer porção geográfica que se queira amar depende de sua conexão com essa cultura, as pessoas, os costumes, o clima, a natureza, os valores, a religião, a música, as manifestações populares relacionadas à cultura dessa região, e sim, por que não, as manifestações esportivas dessa região, incluindo aí a seleção de futebol de um país.

Então estou me contradizendo? Acho que não, se não vejam.

O que estou aqui a defender é que a seleção do Dunga, como foi a do Lazaroni, do Parreira, do Zagalo e todos aqueles pós 1982/1986 NÃO representaram a nossa cultura, os nossos valores, as nossas ansiedades, o jeito de ser do brasileiro. Extrovertido, brincalhão, irresponsável e até mesmo malandro, qualidades(2) que fazem quem somos.

Não somos robôs duros e obedientes como os europeus, por exemplo. Precisamos do improviso como um guitarrista que no meio de um show tem uma corda rompida e que continua tocando, e que faz dessa adversidade uma obra prima. Ou a mulata que durante uma apresentação tem um dos saltos de seu sapato quebrado e ela continua com um sapato e meio e dança melhor que qualquer bailarina do Ballet Bolshoi.

O resultado final pouco importa. Mas o meio importa. Quero o jogo(3) bonito, irresponsável, pra frente, ofensivo, o malabarismo. Se perdermos, e daí? Quero ganhar de 5 x 3, ou perder de 5 x 7. Quero sair, após um jogo, com um sorriso de felicidade igual ao daquele garoto que “não tem onde cair morto”, mas ganha de presente uma bola de futebol de aniversário. Quero aquele mesmo sorriso que ele estampa em seu rosto ao sair driblando jogadores(4) imaginários e se imaginando fazendo um gol na Copa do Mundo, e não a cara de raiva de muitos dos nossos jogadores ao desarmar um adversário deixando a perna como se uma espada a fosse...

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1 Expressão “carinhosa” bastante utilizada por Zagalo para referir-se à seleção brasileira
2 Ou será que são defeitos?
3 Eu disse jogo! Não disse guerra!
4 Eu disse jogadores! Não chamei-os de inimigos!